segunda-feira, 29 de setembro de 2014

mmxivixxxix



Deixa que os meus passos,
de volta,
te ofereçam
o conforto 
do sonho.

Deixa que,
a minha respiração
faça,
com que a tua
seja,
também 
a minha.

Deixa 
que o tudo 
se aceite no
que, 
a realidade, 
é.

… e Tu, testemunha,
do  oculto,
em mim,
Te elevas
na força de todas,
mas mesmo
todas,
as minhas ausências.

LAM; [em construção]; Set 2014


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A Menina


- Streets, Dreams and Memories (mix) - Michel Banabila by Peter van Cooten]

Ele guardava uma menina dentro de si. Era uma história antiga. Tinha muitos anos. Metade de uma vida se um homem viver até aos cem. Menos se for realista. Mas era uma história de paixão, de amor, que nunca soube que havia, de saber do outro que nunca mais soube e aguardava por notícias a toda a hora. Na hora que casou e teve o primeiro filho, na hora que descasou. Na hora em que ficou sozinho e sem coragem se desencontrou da vida, até que se encontrou de novo, fez mais um filho e mais outro e não descansava. Não sabia da menina dentro de si. O que lhe fizeram. O que lhe era feito? Em que parte do mundo vivia. Vivias? No seu coração pulsava outro, sempre outro, em segredo. Uns dias estava ameno, outros, soalheiro, aparou febres, vómitos, diarreias infantis, noites sem dormir, dias sem descansar. Os primeiros passos. Como teriam sido os teus primeiros passos? Não estivera lá, onde era importante ter estado. Quantas vezes caíste, quantas te levantaste? Quantas vezes eras tu, e quantas vezes foi ele? Quantas vezes cruzaram pensamentos sem o saberem, as dores de crescimento tuas que ele julgava dele, as dores de parto tuas que ele pensava cólicas em si. As alegrias dos primeiros passos a que assistias e ele a rir sozinho no meio da rua, por nada, por tudo, sem nada saber, sem nada compreender. Tu a veres crescer, ele a ver crescer. Rapazes a aprender a ler, raparigas a soletrar. Caíam uns levantavam-se outros, e aquele sorriso franco, aberto, no seu coração, onde existias, se existias. Porque existias.
E ele sem saber, viajou continentes, sulcou mares, visitou países, entreteve-se com outra gente, outras línguas outros lugares, sempre com uma menina no seu coração. Um sorriso gaiato, gravado a granito, folheado a ouro, mas não era vivo, era um retrato. Um momento no tempo. Podia ser diamante, mesmo safira, mas era uma dúvida. Existias, onde? Em que ponto da cidade, corpo, te podia encontrar. Em que ponto da cidade, mãos, te podia tocar. Em que ponto da cidade te podia beijar. Lembras-te do beijo, daquele beijo longo no terraço, na ânsia masculina de ser em ti o que tinha de ser, a tua angústia, de não ser, porque não. Porque era tarde, era cedo, não era a hora. Que amigos nessa noite conheceste, quando ele te roubou a todos e se escondeu contigo, naquelas sombras que só os amantes descobrem. Continuou no beijo, na música que havia nos ouvidos adolescentes, sem juízo, emergentes, urgentes, quentes, ferventes de acontecer, para ter, para ser. Um homem que não era. Um homem ébrio do calor que faz em Fevereiro, um aprendiz de homem. Um rapaz.
Duas vidas. Dois destinos. Dois sofrimentos. Dois caminhos. Dois momentos da vida que só as palavras de homem mais velho uniam. Que um não entendia, mas que o outro fez bandeira, e ainda bem, porque cresceu, se fez grande como só as coisas grandes podem e sabem ser, porque, apenas, têm de ser, assim grandes. Outras demoram mais tempo, têm de sofrer mais, ou menos, pois o crescimento é desigual. Está separado pelo tempo, pelo espaço, pela vida. Os lugares só são apertados e diferentes pelo tamanho do corpo que os atravessa. Os trespassa e como os passa. Ouve um tempo que não foi tempo. Foi abandono. Embriaguez de festa artificial, superficial, palavras de circunstância, enquanto, só, angustiada te vias, só, sem saberes numa terra estranha o que fazer, se a língua que tu falavas era estranha. Um dialecto que só quem tem quinze anos sabe. Que mais ninguém entende. Mais ninguém percebe. Te deitaste. Tarde, cedo? Era tarde quando ele voltou. Trazia tabaco e álcool nas algibeiras com que se deitou a teu lado, te pediu perdão em silêncio e adormeceu na tua insónia. A última insónia, o último sono naquela cama, naquela casa. Onde nada aconteceu, onde nunca aconteceu nada. Onde nunca se encontrou, onde nunca esteve bem, onde nunca por nunca ser se dignou ser. Porque não sabia. Porque não se sabia. Porque se sabia perdido se ousasse olhar de frente para aquele caminho. O caminho ao contrário do caminho do mais velho. Afinal, também ele tinha ouvido e não sabia ainda. O seu coração sangrava uma ferida que ainda não tinha sangue, mas que doía.

Sabes da dor?


Essa! 



Beija-me, não me perguntes porquê!

Há coisas que nunca se esquecem.

O primeiro primeiro beijo e, ...

..., o beijo!

LAM; Apari(a)cções; Set 2014



quarta-feira, 17 de setembro de 2014

mmxiv ix xvii


“…, apercebo-te,
Quando me sussurras com o olhar.”

LAM; pensa(Amem)tos; Set 2014






segunda-feira, 15 de setembro de 2014

mmxiv ix xv



Soubesse a voz
a dor
de a escutar

Ou soubesse
o prazer
no seu olhar.

LAM; 903m4c70s; Set 2014



O fim do principio

Fossem as palavras a Verdade, 
todos seriamos, cegos, surdos e mudos.

LAM; ab(Surdos); Set 2014


sábado, 13 de setembro de 2014

Remind me



"... Mas um de nós, 
afinal, vivía das recordações do outro,
só um amava além da dúvida."

António Cabrita


Apetece-me Sonhar !


O Valor da Sombra


Que me importa pensar em esconder-me a um canto se não posso enconder-me a um canto.
Que valor tem o que pensa em esconder-se a um canto se não se escondeu a um canto, apenas o pensou, comparado com o valor do que, de facto, se escondeu a um canto?
Mas pensa o que se escondeu a um canto o que pensa o que não se escondeu a um canto?
Ou pensará o mesmo o que não se escondeu a um canto que o que não se escondeu a um canto.
Um pensou.
O outro: Fez! Mas terá pensado antes em fazê-lo e concretizou esse pensamento, ou só o pensou depois de o ter feito?

Um canto.

Quantas dúvidas.

LAM; ab(Surdos) Quo tidianos; Set 2014


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

haiku mmcccxxxvii



Ritual
o teu olhar,
eu me espelho.

LAM; haiku mmcccxxxvii; Set 2014




o que somos?


Somos a palavra que não revela o que diz.
Somos a chave que não abre a porta.
Somos o que não vê o vento.
Somos a unidade e o todo e o nada e cada coisa única em simultâneo.
Somos, apenas, o que o tempo nos permite.
Somos, vamos sendo, o pensamento de sermos.
Quando o tempo assim o quiser, saberemos o momento.

LAM; pens(Amen)tos; Set 2014