segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A meditação


[A Meditação] é uma prática que, simultaneamente, transcende os dogmas das religiões e é a essência das mesmas.




A dádiva de aprender a meditar é a maior que alguém poderá dar a si mesmo nesta vida, uma vez que através dela é possível iniciar a jornada para a descoberta da nossa verdadeira natureza, encontrando a estabilidade e a confiança necessárias para viver e morrer bem. A meditação é a estrada para a iluminação.



Em geral, desperdiçamos as nossas vidas – distraindo-nos do nosso verdadeiro eu – com infindáveis actividades. A meditação, por outro lado, é o caminho para nos trazer de volta a nós próprios, onde podemos realmente experimentar e saborear a totalidade do nosso ser, oculto por detrás dos padrões dos hábitos. As nossas são vividas num esforço intenso e ansioso, num remoinho de velocidade e agressão, com competição, apegados a isto e àquilo, aumentando cada vez mais o fardo com novas actividades extenuante e novas preocupações. A meditação é exactamente o oposto, é quebrar completamente o modo como “funcionamos” normalmente, uma vez que se trata de um estado livre de todos os cuidados, em que não há competição, não há o desejo de possuir ou de nos apegarmos a qualquer coisa, não há lutas intensas ou ansiosas nem desejo ardente de vencer. É um estado sem ambições, onde não existe aceitação ou rejeição, esperança ou medo, um estado em que começamos lentamente a libertar todas essas emoções e conceitos que nos aprisionaram e entramos num estado de simplicidade natural.

Sogyal Rinpoche, "O Livro Tibetano da Vida e da Morte, "O Saber do Oriente", Editora Prefacio  

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O que é o estado meditativo?



Thuan – O budismo fala de um nível mais elevado de consciência, de um estado de consciência não comum, que se pode atingir pela meditação. O que é o estado meditativo? Antecipa o sabor do conhecimento perfeito? É um estado em que o intelecto é reduzido ao silêncio, em que a intuição assume o controlo, em que a consciência habitual do tempo e do espaço é ultrapassada e em que se faz a experiência da nossa própria unidade e da unidade do mundo?


Matthieu – O budismo e a sua ciência contemplativa são consideradas como uma via porque está em causa uma transformação gradual da forma como o nosso espírito funciona, porque está em jogo uma purificação do nosso fluxo de consciência que o leva da confusão ao conhecimento perfeito. Ao longo desta marcha, passa-se por diferentes etapas que, numa palavra, correspondem à estabilização dos pensamentos discursivos, a uma lucidez e a uma serenidade crescentes, a uma visão ininterruptamente mais apurada da natureza dos fenómenos exteriores e da consciência e sobretudo a uma libertação cada vez mais completa dos factores mentais que habitualmente obscurecem o espírito. Descobre-se, então, a verdadeira natureza do espírito, que é a felicidade e compaixão, vazias e luminosas, desprovidas de qualquer fixação mental. Porque o apego ao eu já não tem razão de ser, as noções de meu e de teu desmoronam-se também. Conclui-se que só o espírito pode percorrer este caminho e chegar ao seu próprio conhecimento. 

Matthieu Ricard e Trinh Xuan Thuan, O Infinito na Palma da Mão, Editorial Noticias, 2001, pag. 248

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Integrar a noção de impermanência na nossa maneira de ver as coisas


Buda dizia: "Da mesma forma que as pegadas do elefante são as mais vincadas, a impermanência é a ideia mais importante sobre a qual o um budista deve meditar." A impermanência do macroscópico é evidente aos olhos de todos, mas a reflexão sobre a impermanência subtil tem consequências ainda mais profundas. Os fenómenos trazem em si mesmos, naturalmente, o fermento da sua própria transformação e nenhuma entidade imutável pode existir no universo. É, aliás, esta maleabilidade dos fenomenos e da consciência que permite o processo de transformação que, finalmente, conduz ao conhecimento perfeito.

Mathieu Ricard e Trinh Xuan Thuan, O Infinito na Palma da Mão, Editorial Noticias, 2001, pag. 134