Não tenho palavras.
Procuro nos bolsos o resto dos dias e não me sobram vocábulos. Já não construo
frases. Aqueles blocos coloridos que numa alcântara febrilmente erigida, nos
permitem transpor o nosso desejo de permanecer. Essa ambivalência do nada, do quase nada, que
subjaz ao pensamento. O corpo inerme, vai. Mas a vontade é mantida prisioneira
do chão que a enraíza. Não, essa metáfrase que subjuga. Não. Não e não. Nada. A
vida já não pertence ao corpo nem à sintaxe. O texto está morto e frio. Há que
deitá-lo à terra que o viu quase nascer, aquando um quase nada. Um quase coisa
nenhuma, mas ainda coisa e nenhuma. A coisa em si. Copos. Corpos com liquido
dentro, que o tempo se vai encarregando de ir sorvendo em pequenos golos, a
intervalos cada vez mais diminutos. Tempo. Uma unidade para-matemática para
designar o espaço entre. Outros corpos. Outros tempos. Viajando se encontram as
razões da existência, olhando bem no fundo dos olhos dos outros. É sempre um
outro que vai e é sempre estoutro que fica, mesmo indo com o outro. Um que não
é igual. O outro que permanece. A dicotomia da azáfama de nada fazer. De deixar
estar. De ser e de não ser. Para-fazer. Palavra encontrada ao acaso no caminho
que não se percorre, mas se alonga no olhar. Uma pedra aqui. Uma árvore ali. Por
fim um viandante. Ninguém. Um percurso deserto. Para onde vão os sentidos fica
a esperança, vã, como vãs são todas as coisas no decurso do tempo. A pouco e
pouco me vou despindo, até que só me resto eu. E nem o eu se resolve. Porque a
nada me sou e a nada me entrego. Fechados os olhos, o mundo já não existe.
LAM; Escritos (in)adiados,
11-05-2012
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