" A imagem não é o espelho, nem o espelho é a imagem,
mas é no espelho que está a imagem”.
Leva-me contigo. Leva-me para onde não mais tenha de voltar.
Leva-me de volta para o lugar de onde nunca vim. Leva-me. Morto ou vivo ou
moribundo ou então nada disso, mas leva-me. Leva-me para que nunca mais volte e
não tenha de ouvir os pássaros que voam, as galinhas que cantam as madrugadas
cansadas. Os esgares nocturnos do vómito. Leva-me para aquele sempre de que nunca
ousaremos falar. Para o sem fim de nada. Ou de tudo. Ou de nada, nada de novo e
de novo tudo.
Leva-me contigo para onde o desespero amanhece com dores de
cabeça aguardando ansioso pela noite, para voltar acordar de novo. Novo.
Leva-me e não me deixes comigo, que sou incerto. Que sou o que não desperta.
Que não sou nada e esse nada desespera por mais. Nada.
Leva-me para sempre. Que seja essa a viagem que não
regressa. O mito do não retorno. O fim. O princípio do que acaba. O resto.
Leva-me de uma vez. Para nunca mais.
LAM
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