Das palavras saem gumes
afiados que deixam riscos de sangue em quem passa.
Nos passeios labirínticos
da vida, sementes multiformes, vocábulos soltos, simples argumentos de
inutilidade.
Ramos altos de acácias
desejam o princípio do céu sem deixarem, nunca, a terra onde se fixaram. Das raízes,
disse-se. Do chão que as prende, sabe-se.
Temos dois braços, cinco
dedos em duas mãos. São verbo, substantivo e sujeito. Dos pés, os passos que
voltam sempre ao mesmo lugar. Distante. Daqui. De sempre e de nunca. Agora.
Labiríntico desejo de
partilha, segurando com a força do hábito o saber da perda, a cada instante,
infinitamente distante. Infinitamente longe de qualquer gesto. Infinitamente
gasto.
Parto de mim. Um parto
que é nascer e ir. Chegar e voltar no mesmo tempo. Uma viagem que não tem
começo nem acaba. Nunca. Palavra definida pela sua incompletude. Trajecto já
acabado quando ainda sequer começou.
Porque não voam as
árvores? Porque se beiram nos caminhos, estáticas, desejando o céu, só porque,
de altas, não vêem o chão em que pisam, com a sua sombra dilatada pelo sol?
- Tem uma árvore, sombra
de noite?
Migram os pássaros, as
nuvens, os homens e as suas fronteiras. Migram as marés, os barcos e os peixes
que neles viajam, dentro e fora. Dentro, porque é a sua natureza de ser peixe.
Fora porque é da natureza do homem viver do seu infortúnio. Mas na superfície da
vida, de todas as vidas, nada acontece.
Quando um beijo nasce, é
já um gémeo de outro. Quando um beijo morre é sinal de não haver nunca nascido.
Agora não é um tempo. Agora é um lugar. Intemporal e seguro, como seguras são
todas as palavras caladas. Estas não sangram por fora. Estas são lugares
escondidos pela língua, pelos dentes, pela boca fechada. Mas elas crescem,
surdas e infindas, até que o grito as solte. Depois já é tarde de mais.
Fecham-se os caminhos.
Caem as árvores. Fogem os pássaros e os peixes, e até as marés se aquietam,
olhando de soslaio a lua que as governa.
A lua, oh a lua. Esse sol
noctívago que desassombra os amantes fugidos às leis que os prendem. De nenhum
lugar. Para lugar nenhum.
- Sabias que as árvores
dançam, nocturnas, nos caminhos que cercam?
LAM
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