“Escrever é tentar saber o que escreveríamos se escrevêssemos”
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“Não sei se ainda estás em Caracas, já de regresso a
Barcelona ou talvez em algum ponto aéreo entre as duas, escrevi hoje a
Villa-Matas. Por cá, já todos lemos a notícia de Rómulo Gallegos, a qual
incluía, por alguma razão, apenas comentários teus. O mais interessante: quatro
a um não é a mesma coisa que três a dois. Enfim, imagino que já andarás mais
calmo sem a carga desse concurso.
Estive a ler Bartleby e
Companhia, escrevi-lhe, fazendo referência à sua obra que fala da pulsão negativa
dos escritores, da sua atracção pelo nada: escritores que deixaram de escrever.
Se Bartleby é a personagem literária que representa o escritor do Não, aquele
que preferia não fazê-lo (ou já não o fazer), quem representa então o escritor
do Sim? Que personagem literária poderia exemplificar os escritores que sim,
preferiam fazê-lo? Passa-me pela cabeça que é nessa batalha que me encontro
actualmente. À procura de origens literárias, estou, na realidade, à procura de
momentos do Sim, dirijo-me com cautela para o extremo oposto de todos os
Bartlebys. Espero não te maçar demasiado com estas insignificâncias.”
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“Já sem qualquer brisa, Vladimir viu apenas o peso de uma
gota de chuva, brilhando luxuosamente, resplandecendo como um metal liquido,
arqueava a ponta de uma pequena folha verde. Silêncio. Viu como este glóbulo prateado
deslizava lentamente através da veia central da folha. Quietude. E depois, no
mesmo segundo que mais pareceu uma fenda no tempo, viu como a majestosa gota caiu,
aliviando a folha daquele tremendo peso e fazendo-a regressar, em rítmicas oscilações,
à sua posição original.”
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“De nada, Eduardo. Faça-me só um favor, sim? Deixe-se de
parvoíces, não faça esse tipo de perguntas estéreis. Não há respostas válidas
para a pergunta sobre a razão pela qual alguém se torna escritor e, ainda que
as houvesse, seria a mesma coisa, não interessam a ninguém.”
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“”Escrever para que me leiam, creio recordar que disse, em
algum momento, Oscar Wilde, embora talvez tenha sido André Gide – tendo a
confundi-los e para os meus fins pouco importa. Mas monsieur Wilde, objectar-lhe-ia se eu pudesse, porque quer você que
o leiam? E o senhor Wilde, audaz, monumental, com o seu génio irónico sempre
afinado, talvez me respondesse que quer que o leiam para, assim, poder continuar
a escrever.”
Eduardo Halfon: “O Anjo Literário”, Cavalo de Ferro