segunda-feira, 18 de maio de 2015

“O Osso das Palavras” (excerto)


Foto de LAM (Avenida da Praia - Barreiro)


Há uma palavra obscura no interior da palavra obscura.
Há um pensamento remoto, remotamente pensado.
Há um temperamento que não tem tempo, nem momento.
Há um momento que é único, irrepetivelmente continuado e único.
Há um todo que todo junto é um deserto de nada, que nada, no deserto de nada.
Há um pouco de tudo isso e um pouco de tudo isto e um pouco de tudo, isto e aquilo que não é nada.
Há repetidamente um nada que é repetido, repetidamente em nada, porque nada num oceano vazio, de nada.
Há e não há, mas também há o que não existe e sabemos que há porque existe, quando existe e já não há.
De todo o todo a nada se refere, quando nada, nem nada, nem significado, porque nada, nesse lodo da consciência oca, de vazia, de sentido oco e vazio, no vazio oco do sentido sem sentido.
As paredes batem porque são paredes e batem porque as ouves, quando batem e batem repetidamente.
Há o silêncio ensurdecedor do silêncio vazio e oco, infinitamente. Oco.
Há o sentimento desse vazio absoluto. Absolutamente vazio e oco.
….
LAM; “O Osso das Palavras” (excerto) in “O Pombo Molhado”; Edições Afa-Zer



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